quinta-feira, 29 de março de 2007

História

Mais alguns tópicos esclarecedores

Em postagem anterior sobre o nome do nosso estado, havia dito que o projeto Maranhão do Sul foi apresentado pela primeira vez na Constituinte de 1987, extamente no dia 11 de março, depois que assembléia popular reunida na Câmara Municipal de Imperatriz, a convite do falecido deputado constituinte Davi Alves Silva, aprovou a sugestão do nome Maranhão do Sul, dentre outros nomes surgidos ao acaso.

Revendo meus arquivos, constato que, de fato, o projeto foi apresentado no dia 9 de abril de 1987, e percorreu todas as comissões da Constituinte, morrendo no relatório final de Bernardo Cabral, na Comissão de Sistematização. Das cinco propostas de redivisão territorial aprovadas nas comissões , Tocantins, Santa Cruz, Triângulo, Maranhão do Sul e Tapajós, apenas a primeira foi contemplada na Constituição de 88 e se transformou no bem sucedido estado vizinho e irmão.

Aconte que Davi Alves Silva manobrou contra a vontade do então deputado Siqueira Campos, retirando a proposta do Maranhão do Sul e substituindo, logo no dia seguinte, 12 de março de 1987, pelo projeto CARAJÁS, a ser desmembrado do norte de Goiás e sul do Maranhão, com a capital em Imperatriz. Juntou assinatura de 32 constituintes, alguns deles de grande prestígio político. Siqueira Campos não aceitou a manobra e derrubou a proposta no nascedouro. O Estado do Tocantins, formado apenas pelo norte de Goiás, era um projeto já consolidado no Congresso Nacional, cuja lei criadora anterior à Constituinte foi vetada pelo então presidente Sarney.

Davi volveu ao projeto original do Maranhão do Sul, como disse, no dia 9 de abril de 1987, recomendado que foi pela assembléia popular de 11 de março.

Sobre os diversos projetos de emancipação do sul do Maranhão, cuja idéia é secular, o acadêmico e jornalista Edmilson Sanches traz, em seu blog, um histórico rico de informações.

Faltou, no entanto, dizer sobre outros precursores anteriores ao saudoso Joaquim Paulo de Almeida. Antes dele, o então juiz de Imperatriz, hoje desembargador aposentado, José Delfino Sipaúba, no início dos anos setenta, acompanhado do também juiz José de Ribamar Fiquene, depois prefeito de Impetratriz e Governador do Maranhão, sócio da AIL, promoveu diversas reuniões no antigo salão do Clube Tocantins, na rua Godofredo Viana, para discutir a criação do Estado do Tocantins, antigo sonho da região.

A nota curiosa sobre esse episódio diz respeito à reação imediata do então governador Pedro Neiva de Santana, irritado não só com o movimento separatista, mas também porque ele estava sendo liderado por funcionários do Estado atingido com a separação. Os dois juizes, o promotor José Maria Rodrigues e eu, procurador do Estado, não deveríamos estar envolvidos em atividades ditas subversivas, como era classificada na época, em plena efervescência da Guerrilha do Araguaia. Fiquene, sempre conciliador, propôs mandar telegrama à Presidência da República do General Médici, perguntando como seria recebido um estudo de nossa lavra sobre redivisão territorial do sul do Maranhão e norte de Goiás. Semanas depois, chegou resposta da Presidência da República agradecendo o telegrama e mais nada. Não sei se Fiquene ainda guarda esse telegrama que eu li. É um documento histórico, ou são dois documentos históricos, os telegramas.

Antes mesmo de Sipaúba, lembro do Waldir Braga, outro brilhante acadêmico e jornalista que não se esquece do sonho político e edita o bravo jornal Maranhão do Sul. Lembro de comícios organizados por Waldir, em Carolina, ainda nos anos cinqüenta, conclamando a população à luta pelo Estado do Tocantins. Alfredo Maranhão, outro acadêmico já falecido, sempre entusiasta, fazia coro com Waldir Braga pela emancipação do sul do Maranhão. Waldemar Pereira, também sócio da AIL já falecido, fazia sua pregação pela emancipação sul-maranhense, em Porto Franco.

Todas essas lembranças servem para tirar dúvidas de quem ainda as tem sobre propalado oportunismo político debitado ao projeto Maranhão do Sul. Adversários da idéia, principalmente a mídia do Sul do país, tentam macular o projeto com a pecha de politiquismo, inventando que o desmembramento do Maranhão em dois estados é uma idéia do Sarney, para dominar um deles, o mais novo, se não puder abarcar os dois.

Nós sabemos que aqui, no Maranhão do Sul, tudo será novo, inclusive a classe política, como é natural e tem acontecido onde se implantou uma nova estrutura de estado.

Façam seus comentários. O Maranhão do Sul depende muito de nossa participação.

2 comentários:

Mauro Noleto disse...

Muito oportuna e rica a recordação da trajetória emancipatória que anima o projeto de criação do novo estado. Sei que o nome Maranhão do Sul está consagrado no meio da população interessada, mas, desde que li o manifesto de José Geraldo, fiquei matutando com essa história do nome.

Reitero que não acho oportuno nem produtivo fazer disso um cavalo de batalha que pode ser desagregador, mas queria colocar pelo menos uma pitada nesse caldo.

Como disse, acho mesmo que o nome atual já é algo consagrado no meio da população, mas para fora, para cá e alhures, o nome Maranhão não desperta muita simpatia (vide a reação maldosa, preconceituosa e desinformada da imprensa sulista sobre o plebiscito). Maranhão do Sul passa para eles a idéia difícil de desconstruir de que o novo estado será um apêndice do velho.

Por isso, acho que em um debate democrático, nada deve ser descartado, nem a proposta do nome e, afinal, veja-se o caso do Tocantins. O nome, desvinculado do velho Goiás, lhe garantiu a assunção de identidade própria em pouco tempo. Acho que a mobilização tem que sair dos limites do Maranhão do norte e do sul e tentar chegar no resto do país e, para isso ocorrer de modo eficiente, ou seja, atrair a simpatia para a causa e não a oposição, um novo nome, vinculado às raízes e particularidades da região, teria um forte apelo de marketing positivo.

De todos os sugeridos por J. Geraldo, o que me pareceu mais adequado e representativo foi o nome TIMBIRA. O Estado Timbira faria homenagem aos povos ancestrais que formaram o povo brasileiro, mesmo depois de tantos massacres físicos e etnocídios. A cultura autóctone é ainda muito forte em nossa região tocantina (kraolândia), apesar de francamente desvalorizada por nós próprios os seus conterrâneos caras-pálidas. O Estado Timbira seria o Estado da redenção desse patrimônio cultural, natural, antropológico e, para usar a "questão" da moda, ecológico.

Essa é a verdadeira contra-informação que pode sensibilizar jornalistas, pesquisadores, políticos e os moradores das outras regiões do país.

Não quer o Estado novo ser o mero desdobramento do velho, todos concordamos, quer ser novo de verdade, ter autonomia para promover o desenvolvimento humano tão postergado para um futuro que nunca chegou. Com tanta riqueza histórica, natural, econômica, não pode ficar à mercê da maldição do Maranhão do norte e seus desgastados políticos.

Pensemos nisso.

PS. Veja o que é a mudança de nome. O PFL será conhecido daqui pra frente como DEMOCRATAS. Convenhamos, é uma excelente estratégia de marketing político, mas, se for genuína, será também a busca de uma nova identidade política desvinculada do passado que atrapalha.

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e