terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Incoerência paulista

Suspendi a leitura do excelente livro de Saulo Ramos, "Código da Vida", na página 145
para fazer esta postagem. Inevitável este comentário a uma frase infeliz do ilustre advogado, quando diz:

"Abriram a Belém-Brasília. Deu no que deu."

Disse muito pouco sobre a grande estrada, mas insinuou muito. Se o escritor queria demonstrar o que as estradas fazem de estrago ao meio ambiente, sem excluir as rodovias que cruzam a Mata Atlântica e não apenas o cerrado e a pré-Amazônia, ainda se poderia aceitar a expressão indúbia: "Deu no que deu". Deu aqui e deu lá também, como de resto acontece com todas as obras que invariavelmente agridem a natureza.


Mas, ficou patente a crítica à construção da rodovia Belém-Brasília, que outro paulista, Jânio Quadros, chamou de "estrada de onça". Que o ranço paulista tenha se manifestado há quase meio século, vindo de uma conhecida e extravagante figura, ainda se admite, sem protesto. De Saulo Ramos, não. Não de quem escreve livro tão interessante sobre a vida brasileira e se declara habituado a bem pensar, como fazem o bons advogados. Por que deixar fluir essa incontida má vontade dos sulistas com tudo que diz respeito ao desenvolvimento do resto do país, pelo menos quando invistimento público se faz necessário para alavancar crescimento e desenvolvimento?


A rodovia Belém-Brasília é a grande estrada de integração nacional. Depois da frase infeliz de Jânio ninguém mais se atreveu a censurar a construção dessa estrada que se tornou a via fundamental de desenvolvimento para cinco milhões de brasileiros. Falo das populações de Brasília e Belém e das que habitam o longo trajeto da BR, antes um grande vazio no coração do Brasil e, hoje, uma região em franco desenvolvimento, plenamente integrada ao resto do país.


Deu no que deu: uma explosão de desenvolvimento, inimaginável antes da Belém-Brasília. Mas o que o grande jurista, e agora escritor consagrado, quis dizer, quando escrevia sobre a necessidade de preservar a Amazônia tornando-a intocável para evitar a cobiça internacional, é que a grande rodovia passou a justificar os argumentos dos gringos que pretendem internacionalizar dois terços do território brasileiro.


Saulo Ramos que diz saber pensar, não pensou nos benefícios incontáveis advindos com a Belém-Brasília, nem pensou como pensam inteligências respeitáveis sobre a ocupação da Amazônia de forma sustentada, para torná-la cada vez mais brasileira, livre da cobiça estrangeira. Intocada e imprestável para a vida nos padrões de qualidade aos quais chegou a humanidade, aí sim, pelo contrário, mais justificáveis seriam os argumentos levantados pela internacionalização da Amazônia como pulmão do mundo.


Ocupar e preservar as riquezas naturais, explorando-as de forma sustentada. Pena que nos anos 50 e 60, não se pensava assim. A devastação da pré-Amazônia ocorrida com as entradas de colonos pela Belém-Brasília poderia ter sido evitada, se tivéssemos a consciência ecológica de hoje. Mas nunca evitar as boas estradas, que conduzem progresso e desenvolvimento, justificando o abandono pela incapacidade de fiscalizar e evitar a ação predadora do homem.

Quando será que sulistas, paulista à frente, vão descobrir a grandeza do Brasil e que o desenvolvimento integral de todas as regiões é de interesse de todos, inclusive de lá, que integrarão um país como poucos na face da Terra?

Fica mais uma vez explicada a intransigente repulsa do projeto Maranhão do Sul por personalidades importantes do sul do país, como Saulo Ramos, como se deduz do infeliz comentário sobre a Belém-Brasília.

"Quousque tandem, dr. Saulo Ramos?"

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi é a 1ª vez que encontrei o teu blogue e gostei tanto!Bom Trabalho!
Até à próxima

Carlos Ferreira disse...

Prezados (as),
Vamos acelerar as emancipações:
Vejam, leiam e comentem:
http://carlosferreirajf.blogspot.com/search?q=redivis%C3%A3o+territorial

Carlos Ferreira
Juiz de Fora-MG
http://www.orkut.com.br/Main#Profile?rl=ls&uid=7363362160702474706

www.carlosferreirajf.blogspot.com