quinta-feira, 16 de agosto de 2007

O Maranhão do Sul na "Veja"

Resposta a Roberto Pompeu de Toledo

Está todo mundo se coçando para responder ao ensaista da "Veja" que usou um espaço de mídia privilegiado para dizer sandices sobre o projeto do Maranhão do Sul e sobre a redivisão territorial do Brasil. A carga de preconceito paulista e ignorância política do jornalista merecem nosso repúdio.

Passo ao Edmilson Sanches a tarefa de respondê-lo com argumentos que tem acumulado e ainda não foram publicados como convém e faz uma enorme falta à marcha do projeto de criação do Maranhão do Sul.


"Maranhão do Sul
JORNALISTA IMPERATRIZENSE RESPONDE MATÉRIA DA REVISTA "VEJA"

Nem falta de dinheiro nem corrupção são argumentos válidos para impedir a criação do estado do Maranhão do Sul. Mostrando razões históricas, econômicas e sociais, o jornalista Edmilson Sanches responde ao artigo do jornalista e escritor paulista Roberto Pompeu de Toledo, publicado na revista “Veja” desta semana. Citando estudos econômicos, Sanches revela que os seis novos estados que pretendem ser criados (Araguaia, Carajás, Gurguéia, Maranhão do Sul, São Francisco e Tapajós), mais o Tocantins, gerariam um milhão de empregos e riqueza de R$ 60 bilhões. Com isso, em apenas dois anos o Governo Federal teria de volta o total dos recursos que empregaria para instalação das novas unidades federativas.

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O MARANHÃO DO SUL NA “VEJA”

EDMILSON SANCHES

Quando o assunto é redivisão territorial do Brasil, as pessoas que são contra sacam logo do bolso dois únicos argumentos: 1) vai aumentar a roubalheira, a corrupção; e 2) o País não tem dinheiro para pagar a sua parte da conta (construção, instalações, equipamentos e manutenção de órgãos governamentais e remuneração de servidores).


Sou defensor da redivisão, mas não é isso o que me leva a concluir o quanto esses argumentos são frágeis, ou, no mínimo, apressados. Em relação à corrupção e roubalheira em novos estados, vale lembrar que elas têm a idade do ser humano, que sempre quer mais, mesmo quando se encontra no Paraíso. Se o volume de roubalheira e corrupção, calculado em reais ou em dólares, fosse vinculado à redução das endodivisões (redivisão dos Estados), São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília sequer existiriam, ou tornariam ao estado de natureza. Neste país se rouba do povo desde sua descoberta -- basta citar os quase R$ 700 bilhões em corrupção e desperdício levantados em reportagens do jornal “O Dia” (RJ) em 2002.


Quanto à inexistência de recursos para implantação dos novos estados, diga-se que grande parte do dinheiro que a União investiria (é isso mesmo: investimento, não gasto) retornaria aos cofres do Tesouro Nacional. São altos os impostos incidentes sobre os materiais de construção (perto de 40% no cimento, na tinta e no vaso sanitário e 37% no tijolo). Em uma casa popular de R$ 45 mil os impostos “comem” R$ 22.275,00. E mais impostos sobre os móveis, as instalações e até o material de expediente e, em especial, sobre a folha de pagamento dos funcionários. Some-se a isso o custo do consumo, os tributos embutidos nos preços dos bens, produtos e serviços pagos com a massa salarial e outros ganhos -- impostos que vão de 18% na carne e no feijão, 40,5% no açúcar, a até 56% na cerveja e 83% no litro de cachaça.


Portanto, vale repetir, se o Governo Federal investir R$ 1,9 bilhão em cada novo estado, ele teria esse valor de volta logo logo, e com “juros”, pois a nova dinâmica econômica que se desenvolveria na nova unidade federativa aumentaria o bolo dos impostos para os cofres públicos, sem falar nos ganhos indiretos, que viriam com a redução de gastos em assistência social, saúde, bolsas-issos e vales-aquilo, já que grande parte da população ficaria ao abrigo de atividades produtivas (assalariados, autônomos, empresários e empreendedores, além de parte no Serviço Público).


Economistas, sociólogos e outros pesquisadores e estudiosos têm um campo desafiador nesse assunto: o quanto retorna, para a União, do dinheiro investido na instalação de um novo Estado. Como exemplo, cite-se o economista Roberto Limeira (raro caso de razão e paixão na pesquisa e estudos sobre o tema), que mostra por A + B, ou melhor, com todos os números: menos de dois e meio por cento (R$ 12 bilhões) do meio trilhão de reais do PAC, aplicados na criação de seis estados (Araguaia, Carajás, Gurguéia, Maranhão do Sul, São Francisco e Tapajós), geraria nessa área (incluindo-se o estado do Tocantins) um milhão de empregos e riqueza (PIB) de R$ 60 bilhões (atualmente, já são gerados R$ 40 bilhões). Somente com os impostos e divisas de exportação, em apenas dois anos a União teria o retorno de todo o investimento feito, sem falar nos ganhos sociais, políticos, de auto-estima, de consolidação do território nacional e a repercussão econômica e social nos demais estados, sobretudo os do Sul-Sudeste, que venderiam mais para os novos “irmãos” e “desincharia” parte de sua população, com a volta de muitos brasileiros para suas origens nortistas e nordestinas.




Geopoliticamente, dividir não é fragmentar, mas consolidar. Se a sede de dinheiro e poder, se os sem-moral e os sem-vergonha da política se aproveitam do sonho da redivisão territorial para cometer seus crimes, onde está a culpa: no sonho ou no vagabundo político que sordidamente se assenhoreia dele? Ora!... Contra a corrupção (e outros crimes) devem agir Justiça, Polícia, Ministério Público... e a cidadania vigilante. Se essas estruturas não são eficazes a ponto de prender esses políticos bandidos, reaver o dinheiro e conter a sangria desatada que vitima o povo, então é bom diagnosticar as razões da ineficácia, receitar o remédio e controlar sua administração (sem trocadinho).


Dividir mais para administrar melhor tem sido tendência e realidade no mundo inteiro. Só os que não se dedicam um pouco mais ao estudo, acompanhamento e análise podem se assentar em bases tão pouco sólidas quanto as alegações de falta de dinheiro e excesso de corrupção como fatores inibidores da redivisão territorial.


Nem o nosso planeta agüentou ser uma terra só. Saiu da condição de Pangéia, dividiu-se em dois supercontinentes e, no momento, são seis continentes. Até o começo do século 20 existiam pouco mais de 70 países. Agora, são quase duzentos. O que a Geologia começou, a Geografia confirmou: dividir faz bem -- e a Religião e a Filosofia ratificam. Divisão não é o mesmo que apropriação, corrupção. A redivisão territorial é a mais rápida e mais segura forma de promoção do desenvolvimento, de inclusão social. Com roubos e tudo.


A França, país quase do tamanho da Bahia, tem hoje 96 estados (départements), mais quatro além-mar e mais de 36 mil municípios (comunas). Quase 16 vezes maior do que o território francês, o Brasil existe com seus 26 estados e um distrito federal e menos de 5.700 municípios. Os Estados Unidos têm 51 unidades federativas cerca de 30 mil cidades. A Alemanha, com 356 mil km2 (quase o tamanho do Maranhão), tem 16 estados e mais de 12 mil cidades. A Espanha, com 505 mil km2 (bem menor que Minas Gerais), tem 50 estados (províncias) e oito mil cidades, total este semelhante ao da Itália, que é bem menor do que o Goiás.


Do “A” do Afeganistão ao “Z” do Zimbábue, a correlação entre área territorial e quantidade de estados (ou similares) encontra no Brasil o país de mais injusto desequilíbrio, especialmente quando a isso se juntam as desigualdades socioeconômicas.


A revista "Veja", que trouxe em 15/08/2007, um texto do paulista e paulistano Roberto Pompeu de Toledo (“O Maranhão do Sul na Wikipédia”), talvez não abrigue réplicas em igual espaço -- é a força da “ditadura” e do monólogo dos veículos de comunicação bem sucedidos, que impõem, quase sem reserva, o poder de sua mensagem para o resto do país e para leitores nos quatro cantos do mundo, ouvindo quase nada a população, mesmo quando o assunto tem importância vital sobre o presente e futuro dela.


O articulista Toledo talvez não saiba que a luta pela redivisão do lado sul do Maranhão tem mais de 180 anos. Que nossas riquezas naturais e culturais, a capacidade desbravadora e empreendedora de brasileiros de todo o país e de estrangeiros de todos os continentes fizeram e ainda vão transformar esta região em referência de progresso. O “estado de espírito” transmuta-se para “espírito de estado”.


Além de estarem incorretas as referências do artigo do sr. Toledo, elas pecam ao afirmar que o Estado do Maranhão do Sul, quando criado, “irá para a rabeira [sic]”. Por que, sr. Toledo, o Tocantins e o Mato Grosso do Sul não ficaram nessa “rabeira”? Pois saiba que a parte sul do Maranhão tem riquezas naturais, geografia estratégica e outras vantagens comparativas e competitivas. O que falta -- e disso o Brasil é cheio -- é decisão política para promover o desenvolvimento regional com envolvimento do capital humano intelectual e social aqui formado ou que para aqui se transferiu.


Falar de pólos agrograneleiros e agroenergéticos, recursos minerais e florestais, pecuária e indústria, comércio e agricultura, infra-estruturas etc. é necessário, mas, aqui, seria cansativo. Talvez em outra oportunidade.


Quem é contra a redivisão talvez deseje que o Brasil volte a ser um conjunto de capitanias. Talvez a paulista e paulistana “Veja” e o paulista e paulistano Toledo não se opusessem ao retorno de São Paulo ao território do Rio de Janeiro, a cujo governo “ficou sujeito, tanto administrativamente como no Judiciário”, como anotou Ildefonso Escobar. Ou, alternativamente, São Paulo reintegre-se ao território da Bahia, de cujo governo “ficou dependente” também. Talvez os paranaenses não se importem se seu estado voltar a pertencer a São Paulo. Talvez os paulistas não se incomodem (afinal, tudo é Brasil) de devolver ou buscar o que lhe é de direito em relação aos territórios de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Talvez a capital Curitiba e o estado de Santa Catarina voltem correndo para se reincorporar ao estado paulista. Talvez o Rio de Janeiro queira de volta a São Paulo que por algumas vezes lhe tiraram, em um puxa-encolhe que, como sanfona, resfolegou, veio e voltou do século 16 ao século 18.


O Maranhão do Sul será uma realidade -- não por força de “jogadas” de enfraquecimento político que nunca existiram. O Maranhão do Sul, mais dias menos dias, virá -- não por birra inútil ou vontade fútil. Não. Ele acontecerá como parte do debate nacional e da tendência e prática internacional de dividir mais (o território) para dividir melhor (seus recursos entre os cidadãos). Nestes momentos -- e também nos demais --, a corrupção não deve ser entendida como regra, mas como anomalia. Ela é um desvio de caráter humano, não uma característica de gestão da coisa pública, da Ciência Administrativa.


Em sonho, em lutas, em riquezas materiais, em potencialidades de toda ordem, o Maranhão do Sul é grande. É maior do que a ignorância daqueles que, por falta de interesse ou oportunidade, ainda não sabem do que estão falando.

Ou escrevendo.


(Para saber um pouco mais, visite: www.estadomaranhaodosul.blogspot.com.br).
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(*) EDMILSON SANCHES, jornalista, consultor e pesquisador, é autor de livros nas áreas de Administração, Comunicação e Desenvolvimento. Para adquirir seus trabalhos e contratar palestras, contate: (99) 3072-1046. E-mail: edmilsonsanches@uol.com.br .

3 comentários:

espósito disse...

As comparações com outros países são tão estúpidas, que cheiram a falácia. Tratam departamentos, províncias, regiões e estados como se fossem a mesma coisa! Em geral, chamam-se estados as unidades federativas com significativa autonomia, em campos como o judicial, tributário, legislativo e outros. Províncias e outros em geral nem são chamados de unidades federativas, uma vez que uma federação é composta de unidades com certa autonomia.

Prossegue a ignorância/falácia ao se omitir na lista de exemplos ("de A a Z") o Canadá e a Austrália, países com área similar à do Brasil, riqueza per capita cerca de 10 vezes maior e que contam com, no caso da Austrália, 6 estados e um território; o Canadá, com 8 províncias e um território.

O artigo ainda vomita os números de divisões geopolíticas nos países citados como se a mera aritmética unidades/área fosse o argumento supremo e suficiente; esqueçam-se as razões históricas, as particularidades físicas, as potencialidades econômicas, as características culturais e as questões étnicas que motivaram essas divisões, ao longo de até 2500 anos (casos da Espanha e da Itália).

Não se dá nem mesmo ao trabalho (fácil e simplista, mas melhor do que nada) de considerar as aritméticas PIB/unidade ou mesmo população/unidade.

Os cidadãos de estados viáveis (como eu) são contra esses projetos de estadecos porque sabem que vão acabar pagando a conta. O autor sente cheiro de preconceito; eu farejo interesses escusos.

Anônimo disse...

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De início gostaria de esclarecer que, tal artigo, me foi enviado pelo mestre de Academia (UFMA); autor do mesmo; e de livre ação resolvi postá-lo neste interessante blog que ofereceu vasão àqueles que redigiram a cerca do pensamento do jornalista Pompeu quanto ao tema: "Maranhão do Sul". Agradeço o espaço E espero que o mestre não veja este como uma afetação e sim, como expressão de minha admiração e respeito. (Ana Carolina Bravin)
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A DIVISÃO DO MARANHÃO NUMA ESTRATÉGIA CENTRO-SUL


A redivisão territorial do Brasil é tema dos mais polêmicos na atualidade. Os projetos do Maranhão do Sul ganharam foro nacional com a publicação da opinião do jornalista Roberto Pompeu Toledo na Revista Veja. A leitura dele está distante das questões de fundo como São Paulo do Maranhão em termos de desenvolvimento econômico e riqueza. Por isso, é natural que sua opinião seja tão disparatada da realidade.
Afinal de contas o que fomenta o projeto do Maranhão do Sul? Quais as questões fundamentais dessa discussão? Há viabilidade desta divisão, e em caso contrário, qual seria o plano B?
As discussões acerca do Maranhão do Sul quase sempre não ultrapassam aos mais legítimos sentimentos do povo. Sentimentalidades construídas pela histórica rejeição, exclusão, pelo abandono, pela ausência de projeto que inclua efetivamente o centro-sul do estado num planejamento estratégico de desenvolvimento regional. O Palácio dos Leões – até hoje – continua olhando para o mar em detrimento do continente que é o estado do Maranhão. Não apresentou nenhum projeto de desenvolvimento regional para as Regiões Central do Maranhão e a Tocantina, ou seja, o eixo maranhense centro-sul, a despeito de sua importância não tem recebido a atenção merecida do ilhéu. A lógica circunscreve-se em desenvolver nossa linda São Luís, na perspectiva de que isso é equivalente a desenvolver o Maranhão. Isso é tão equivocada quanto ruim mesmo para este magnífico ecossistema. Aí se concentra quase tudo: PIB cerca de 40% do estado, segurança pública, concentração dos técnicos do estado (por exemplo, não há uma unidade da defensoria do estado em Imperatriz, segunda cidade do Estado), concentração da repartição do ICMS, grandes projetos de investimento público e privado. A coisa é tão maluca que querem colocar projetos de investimento até mesmo aqueles que não cabem ambientalmente dentro da Ilha, como foi o caso da siderúrgica. Ora, num estado das dimensões continentais como o Maranhão, onde os mais expressivos investimentos públicos e privados são endereçados, não raro à fórceps, para a Capital é absolutamente natural que surja o movimento separatista do Maranhão do Sul. A neura político-centralizadora de tudo na Capital, a ausência de concepção e a implementação de projetos de desenvolvimentos regionais, um para o sul e outro para o centro do Maranhão e a dimensão continental do estado, a meu ver, fomentam dia após dia o debate da criação do Estado do Maranhão do Sul e, de resto, a redivisão territorial do país. De fato, é tranqüila a verdade científica, segundo a qual com a divisão territorial e a descentralização administrativa fica mais fácil realizar a alocação eficiente dos recursos do povo, que o digam o Tocantins e o Mato Grosso do Sul e própria Região Centro-Oeste do país.
Mas afinal de contas, há viabilidade hoje para criação do Maranhão do Sul? A nosso ver, com muito pesar e por honestidade intelectual a resposta é pela negativa. Ainda não há ainda base política, eleitoral, desenvolvimento institucional e outras coisas mais que possam sustentar neste momento a criação do Estado do Maranhão do Sul, ainda que numa estratégia centro-sul. E não há exatamente porque a lógica de poder no Brasil e no Maranhão é centralizadora. Nacionalmente pretende-se governar o Brasil através de “projetos” uniformes criados nos gabinetes frios de Brasília, empacotados e enviados para todo o país, não raro, sem mediação alguma das especificidades regionais. Aqui no Maranhão isso é mais grave ainda: as decisões políticas, administrativas, culturais, educacionais, econômicas, de média expressão para frente são tomadas em São Luís, igualmente quase sempre sem mediações locais. O “interior do estado” fica literalmente a ver navios.
A centralização de tudo não se restringe ao sul do estado. A Região Central do Maranhão – mais próxima da Capital –, até agora também não recebeu grandes investimentos públicos ou privados. Cidades importantes como Dom Pedro, Presidente Dutra, Barra do Corda, Grajaú, dentre outras ainda não contam, por exemplo, com relevantes e efetivos investimentos em ensino superior e profissionalizante e o ensino básico precisa melhorar muito.
As políticas públicas de saúde do Maranhão Central, salvo raríssimas exceções, dentre as quais, incluímos logo Tuntum, são muito precárias. A infra-estrutura é muito ruim, veja, por exemplo, o caso da Rodovia 226, trecho Barra do Corda – Presidente Dutra.
Qual seria o plano B, ante a inviabilidade de divisão do Maranhão? A resposta não é simples. Não temos a veleidade de apresentar soluções prontas e acabadas. Precisamos juntar todas as forças políticas progressistas, econômicas, da sociedade civil e popular para construir as alternativas viáveis que possam tirar o nosso estado da posição de lanterna no país em termos de atraso econômico, político, educacional e social.
Qual é plano B então? Desenvolver todas as regiões do estado, com projetos e investimentos públicos e privados focados nas diversas potencialidades. Para isso, precisamos criar uma Agencia de Desenvolvimento Regional da Região Tocantina com o objetivo de realizar e coordenar estudos técnicos das potencialidades e efetividades socioeconômicas regional, com aporte efetivo de recursos humanos e materiais. Na Região Central do Maranhão precisamos igualmente copiar a sentimentalidade regionalista da Região Tocantina que – infelizmente – ainda não existe. Em seguida, criar uma Agencia de Desenvolvimento da Região Central do Maranhão. Sem pesquisa, sem conhecimento, sem planejamento, sem dados, sem informações, sem projetos de desenvolvimento regional e sem efetivos investimentos públicos e privados não há como desenvolver o Maranhão. O Maranhão Central precisa urgentemente da institucionalização do ensino superior, de campus da UFMA, UEMA, CEFET, com quadros próprios, cursos afinados com as vocações regionais. A Região Tocantina precisa de mais atenção no ensino básico e superior. Precisa urgentemente de uma faculdade pública de medicina, pois o SUS de Imperatriz é igualmente caótico. Precisa de campus avançados da UEMA em Açailândia, em Porto Franco.
Depois que esses dois eixos Centro e Sul atingirem um melhor grau de desenvolvimento talvez restem criadas as condições do Maranhão do Sul. E talvez aí isso não interesse mais ao povo, pode até interessar aos políticos, mas não ao povo. O povo do centro-sul quer atenção, respeito e inclusão socioeconômica por parte do poder central.
Essas considerações restringem-se apenas a duas regiões ligadas ao projeto do Maranhão do Sul. Mas a idéia de regionalização e descentralização radical do Maranhão parece-nos ser a única solução para manter o estado íntegro. Ou desenvolvemos o Maranhão como um todo ou o dividimos já.

(*) MARCO AURÉLIO GONZAGA SANTOS, advogado, contador, Mestre em Economia do Desenvolvimento, é professor assistente da UFMA em Imperatriz e Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil. E-mail: marcoaureliogonzagasantos@hotmail.com; JOSUÉ MOURA, é jornalista e editor da Folha do Maranhão Central. E-mail:josue-almeidamoura@hotmail.com.

Anônimo disse...

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De início gostaria de esclarecer que, a postagem deste artigo não tem menção de seu autor, o advogado Marco Aurélio Gonzaga Santos, que tive a honra de ter como mestre no período de Academia (UFMA) e que, decidi fazê-lo por admiração e respeito ao profissional e primeiramente, pela riqueza de suas obtemperações quanto ao tema: "Maranhão do Sul". Espero que apreciam a leitura.

Carolina Bravin
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A DIVISÃO DO MARANHÃO NUMA ESTRATÉGIA CENTRO-SUL


A redivisão territorial do Brasil é tema dos mais polêmicos na atualidade. Os projetos do Maranhão do Sul ganharam foro nacional com a publicação da opinião do jornalista Roberto Pompeu Toledo na Revista Veja. A leitura dele está distante das questões de fundo como São Paulo do Maranhão em termos de desenvolvimento econômico e riqueza. Por isso, é natural que sua opinião seja tão disparatada da realidade.
Afinal de contas o que fomenta o projeto do Maranhão do Sul? Quais as questões fundamentais dessa discussão? Há viabilidade desta divisão, e em caso contrário, qual seria o plano B?
As discussões acerca do Maranhão do Sul quase sempre não ultrapassam aos mais legítimos sentimentos do povo. Sentimentalidades construídas pela histórica rejeição, exclusão, pelo abandono, pela ausência de projeto que inclua efetivamente o centro-sul do estado num planejamento estratégico de desenvolvimento regional. O Palácio dos Leões – até hoje – continua olhando para o mar em detrimento do continente que é o estado do Maranhão. Não apresentou nenhum projeto de desenvolvimento regional para as Regiões Central do Maranhão e a Tocantina, ou seja, o eixo maranhense centro-sul, a despeito de sua importância não tem recebido a atenção merecida do ilhéu. A lógica circunscreve-se em desenvolver nossa linda São Luís, na perspectiva de que isso é equivalente a desenvolver o Maranhão. Isso é tão equivocada quanto ruim mesmo para este magnífico ecossistema. Aí se concentra quase tudo: PIB cerca de 40% do estado, segurança pública, concentração dos técnicos do estado (por exemplo, não há uma unidade da defensoria do estado em Imperatriz, segunda cidade do Estado), concentração da repartição do ICMS, grandes projetos de investimento público e privado. A coisa é tão maluca que querem colocar projetos de investimento até mesmo aqueles que não cabem ambientalmente dentro da Ilha, como foi o caso da siderúrgica. Ora, num estado das dimensões continentais como o Maranhão, onde os mais expressivos investimentos públicos e privados são endereçados, não raro à fórceps, para a Capital é absolutamente natural que surja o movimento separatista do Maranhão do Sul. A neura político-centralizadora de tudo na Capital, a ausência de concepção e a implementação de projetos de desenvolvimentos regionais, um para o sul e outro para o centro do Maranhão e a dimensão continental do estado, a meu ver, fomentam dia após dia o debate da criação do Estado do Maranhão do Sul e, de resto, a redivisão territorial do país. De fato, é tranqüila a verdade científica, segundo a qual com a divisão territorial e a descentralização administrativa fica mais fácil realizar a alocação eficiente dos recursos do povo, que o digam o Tocantins e o Mato Grosso do Sul e própria Região Centro-Oeste do país.
Mas afinal de contas, há viabilidade hoje para criação do Maranhão do Sul? A nosso ver, com muito pesar e por honestidade intelectual a resposta é pela negativa. Ainda não há ainda base política, eleitoral, desenvolvimento institucional e outras coisas mais que possam sustentar neste momento a criação do Estado do Maranhão do Sul, ainda que numa estratégia centro-sul. E não há exatamente porque a lógica de poder no Brasil e no Maranhão é centralizadora. Nacionalmente pretende-se governar o Brasil através de “projetos” uniformes criados nos gabinetes frios de Brasília, empacotados e enviados para todo o país, não raro, sem mediação alguma das especificidades regionais. Aqui no Maranhão isso é mais grave ainda: as decisões políticas, administrativas, culturais, educacionais, econômicas, de média expressão para frente são tomadas em São Luís, igualmente quase sempre sem mediações locais. O “interior do estado” fica literalmente a ver navios.
A centralização de tudo não se restringe ao sul do estado. A Região Central do Maranhão – mais próxima da Capital –, até agora também não recebeu grandes investimentos públicos ou privados. Cidades importantes como Dom Pedro, Presidente Dutra, Barra do Corda, Grajaú, dentre outras ainda não contam, por exemplo, com relevantes e efetivos investimentos em ensino superior e profissionalizante e o ensino básico precisa melhorar muito.
As políticas públicas de saúde do Maranhão Central, salvo raríssimas exceções, dentre as quais, incluímos logo Tuntum, são muito precárias. A infra-estrutura é muito ruim, veja, por exemplo, o caso da Rodovia 226, trecho Barra do Corda – Presidente Dutra.
Qual seria o plano B, ante a inviabilidade de divisão do Maranhão? A resposta não é simples. Não temos a veleidade de apresentar soluções prontas e acabadas. Precisamos juntar todas as forças políticas progressistas, econômicas, da sociedade civil e popular para construir as alternativas viáveis que possam tirar o nosso estado da posição de lanterna no país em termos de atraso econômico, político, educacional e social.
Qual é plano B então? Desenvolver todas as regiões do estado, com projetos e investimentos públicos e privados focados nas diversas potencialidades. Para isso, precisamos criar uma Agencia de Desenvolvimento Regional da Região Tocantina com o objetivo de realizar e coordenar estudos técnicos das potencialidades e efetividades socioeconômicas regional, com aporte efetivo de recursos humanos e materiais. Na Região Central do Maranhão precisamos igualmente copiar a sentimentalidade regionalista da Região Tocantina que – infelizmente – ainda não existe. Em seguida, criar uma Agencia de Desenvolvimento da Região Central do Maranhão. Sem pesquisa, sem conhecimento, sem planejamento, sem dados, sem informações, sem projetos de desenvolvimento regional e sem efetivos investimentos públicos e privados não há como desenvolver o Maranhão. O Maranhão Central precisa urgentemente da institucionalização do ensino superior, de campus da UFMA, UEMA, CEFET, com quadros próprios, cursos afinados com as vocações regionais. A Região Tocantina precisa de mais atenção no ensino básico e superior. Precisa urgentemente de uma faculdade pública de medicina, pois o SUS de Imperatriz é igualmente caótico. Precisa de campus avançados da UEMA em Açailândia, em Porto Franco.
Depois que esses dois eixos Centro e Sul atingirem um melhor grau de desenvolvimento talvez restem criadas as condições do Maranhão do Sul. E talvez aí isso não interesse mais ao povo, pode até interessar aos políticos, mas não ao povo. O povo do centro-sul quer atenção, respeito e inclusão socioeconômica por parte do poder central.
Essas considerações restringem-se apenas a duas regiões ligadas ao projeto do Maranhão do Sul. Mas a idéia de regionalização e descentralização radical do Maranhão parece-nos ser a única solução para manter o estado íntegro. Ou desenvolvemos o Maranhão como um todo ou o dividimos já.

(*) MARCO AURÉLIO GONZAGA SANTOS, advogado, contador, Mestre em Economia do Desenvolvimento, é professor assistente da UFMA em Imperatriz e Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil. E-mail: marcoaureliogonzagasantos@hotmail.com; JOSUÉ MOURA, é jornalista e editor da Folha do Maranhão Central. E-mail:josue-almeidamoura@hotmail.com.